Mais uma vez, dentro de um curto período de tempo, venho aqui falar um pouco sobre o que me vem à cabeça. Tenho certeza que dessa vez, porém, encontrarei mais pares dentro do que penso do que em minhas nebulosas metáforas pessoais. Venho tratar sobre o que costumo chamar de "lógica do estepe". Primeiramente, já afirmo que se trato de amor, aqui ele é a figura universal que da mesma forma se manifestou durante toda a sua convivência com a humanidade. Descarto as novas formas que ele possa tomar, exceto quanto a algumas das flexibilidades que nossos tempos conferem aos que se encorajam em conseguir a mão de suas amadas com base na lei da oferta e da procura, que, nesse setor, se aplica de uma forma sutilmente diferente. Mas não convém explicar isso nesse momento.
Começo analisando o objeto estepe. A princípio, não é de se discordar do fato de que o estepe é um item de segurança. E, por tal motivo, é dono de uma enorme fatia de importância. Entretanto, por não rodar direto no asfalto, jamais há de ser o pneu mais importante de um carro. Muito pelo contrário, só se lembra de sua existência, quando o aventureiro já anexado ao eixo falha. A explicação é óbvia, mas é a parte mais importante do "ser estepe".
O "aventureiro" - note aspas - ou, simplesmente pneu instalado, deve, inicialmente rodar sem menores problemas, devendo, após algum tempo, começar a apresentar algum desgaste. O estepe está novo em folha, porém, pela estabilidade adquirida no desgaste equalizado em relação aos outros pneus e a facilidade com um solo específico não encontrada na estepe, ainda torna-o revezável com o estepe em muitos casos. É, isso é um pouco difícil de se entender, mas espero, porém, conseguir elucidar qualquer dúvida possível que possa resultar dessa metáfora.
Normalmente, ou ao menos nos tempos em que os pneus dispensam maiores tratamentos, o fim da vida útil de um pneu significa recauchutagem e a troca por um novo exemplar. O estepe se tornaria o pneu principal, então. Lógica simples. Porém, não é assim que funciona. Pensemos melhor, pensemos como na Fórmula 1. Há pneus para chuva, para piso seco... Enfim, varia pela situação enfrentada pelo veículo. Penso que a situação se faz parecida: o pneu substituto fará melhor o trabalho e obterá melhor desempenho na nova situação.
Ainda sim, ainda faltaria algum pedaço à "lógica do estepe". Ah, sim, claro: o pensamento que a rege e preferência forçada por algum tipo de pneu. Que bem entendo ouvindo, mas pouco entendo pensando. E é neste ponto em que precisarei largar mão da metáfora e alçar breve vôo ao reino humano para entender de forma não mecânica como os sentimentos humanos são capazes de produzir os efeitos da "lógica do estepe".
Primeiro: não se pode ignorar que uma ausência incentiva o ser na procura de novos caminhos que supram os efeitos causados pela ausência. Segundo: tampouco pode se ignorar que em um momento de ausência não se possa encontrar qualquer caminho que supra suas necessidades "espirituais" (aqui entre aspas, pois não consigo achar termo melhor, no corrente momento) ou - importante - até supere-as! E nesse patamar de procura, encontro de algo diferente - mas satisfatório - é que se forma a "lógica do estepe". Encontra-se um potencial substituto, que é colocado, então, em teste.
Mas os testes jamais terminarão. Ou muito demorarão para fazê-lo. Pois muito da lógica estepe se estabelece sobre a segurança - ou a imagem dela - construída sobre o produto atual e que, decididamente pode não existir ou simplesmente ser uma idéia forçada, apenas baseada no intuito de não ter que arcar com as consquências de uma nova substituição. Isto, senhoras e senhores, é a lógica capaz de transformar muitos amantes em eternos servidores. Processo o qual muitos conhecem por outro nome. Processo o qual, muitos sequer sabem estar colocando em prática. Processo o qual muitos são submetidos sem saber muito o que fazer.
O "amor de estepe" pode não ser um produto de mercado. Mas arrisco-me a dizer que quase está lá, de tão comum que sua expressão no meio é. Reflete um inflexível caso em que o amor se expressa de forma tradicional levando-o à quase servir a amada. Mas dentre tanto velho nevoeiro, os novos tempos dão a saída: o pequeno amor sem compromisso, nos permite viver um pouco menos como estepes, que só chuva tomam, sem nunca conhecer o chão.
Um comentário:
Achei muito interessante a "Logica do Estepe" meu caro Pedro
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