sexta-feira, 23 de março de 2012

Marco das sete

A cidade não morreu, mas começa a se desmontar, perante aos olhos do sol dormente. E vemos, luzes por luzes, vermelhas por um lado, amarelas de outro, em avanço rápido para um trânsito de formigas. Seis milhões de conjuntos de luzes, como vagalumes estáticos e sem asas, varrem pedra a pedra.


Mas não precisa desmontar-se, a cidade... Ao alvorecer, tudo se repete, de sete às sete. Porque a cidade não para, apenas acerta seus ponteiros, para logo mais explodir em multidão. Pesadas portas de aço se erguem frente aos primeiros raios solares, para mais tarde caírem sobre o brilho inexistente da lua.

Fecha o tempo, cai a chuva. Imersos estamos, sob a urbanidade exacerbada, sem limites tracejados, que agora nos confere a poça sob nossos pés. Viajamos no limite das leis da física, perdemos nossas referências. O conforto grita contra os valores e nunca se sabe o quanto a mala realmente atrapalha. Seremos nós as malas, uns dos outros?

Nas latas de sardinha não há alças. Apenas canos, canos pelo qual entramos no resumo de cada dia, carpe diem! E desceremos ciclo abaixo em um espiral de objeções às nossas licenças literárias. E ainda teimam em nos levar por entre máquinas, arrastando-nos por nossos braços. Ora! Não me peguem pelo braço, eu já lhes disse que não quero que me peguem pelo braço!

Tudo é força, máquina, energia. Tudo brilha. Trenzinhos de pilha coreanos, caixas de som portáteis e seus DJs voluntários. E, como paralisados pelo sono, de olhos abertos, presenciamos os espíritos dissecarem as tripas de neurônios conhecidos, extraindo-lhes o potássio e destruindo suas energias. Sinapse de tétrico fim, como os nossos tétricos tempos.

domingo, 18 de março de 2012

Como último domingo...

... estende-se o longo último dia de um final de semana de reflexões que beiraram o que pode-se dizer desimportante, mas sem o qual a alma não vive. Sim, o que se colore de vermelho, e resiste ao tempo como maior força. Matuto sobre os passos, dou voltas na alma, e orbito em um espaço infinito de possibilidades. Crio universos paralelos, realidades distintas.

Tanto faz se ando em montanhas ou em plano... A indecisão recobre o terreno como intransponíveis dunas. Mas decido que será diferente. Dessa vez entrarei com a pá, e direto ao coração do tempo cavarei, para as pétalas da rosa, pequena rosa, beijar. Atrás de mim, todas as lamúrias do passado, e todos os medos... O medo é futuro, e agora vivo o presente, tal como se o amanhã fosse incerto demais para se contar como segurança arriscada.

O maior perigo é se viver um dia como os outros, sem amar porque não admite que ama. E que seja este o último domingo de sol. Ou o primeiro de uma melhor maré, de melhores ventos.