sábado, 7 de janeiro de 2012

Nas paredes da memória

Pareciam apenas quadros, pinturas tépidas de um momento que fora visto em cores vivas, mas no momento, era apenas tinta óleo, reluzente sob a luz da tocha que parcamente ilumina as polidas, mas desgastadas, pedras do corredor.

Estantes, quadros, discos. Um colorido aconchegante sem a menor sombra de dúvidas. Mas nada está em movimento. Cada quadro, cada livro, é como se fosse um pedaço de passado congelado. E dentre tantas peças petrificadas pela frieza do gelo, navego por entre o que lembro de todo o passado.

Bem, dentre os primeiros fracassos de uma vida estão os livros da experiência própria. Páginas e páginas de documentos que não conseguimos mais ler, mas, entretanto, nos formaram. Parágrafos de relatos e declarações falhas. Redações super açucaradas, de fazer inveja aos românticos.

Mas tais erros para sempre estarão nas paredes da memória. Sem espaço delimitado, sem lixeiras, a biblioteca da alma. Acervo inesgotável de histórias que nos trazem a vida ou de contos que nos levam quase a morte.

Nada ensina tanto quanto a experiência própria, embora nada se compare com o conforto da experiência alheia. Porém, por vezes, mais vale o empirismo do que a teoria, especialmente em matéria de relacionamentos ou pretensos relacionamentos. Nunca se sabe como tudo acontece, até que se veja na necessidade de aprender, de uma vez por todas, as lições que só a prática pode ensinar.

Mas não só de decepções e lições é feita uma memória. Quadros de efusivas lembranças, abraços, papos ao ar livre, momentos. Sabe-se que duram pouco, mas ficam registrados sob a vontade de viver. E, assim, para sempre estarão, nas paredes da memória.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

"New Year Sunshine"

É ano novo. Ano que envelhece em trezentos e sessenta e cinco (ou seis, às vezes) dias, e é como folha para o interminável rascunho da vida. A cada dia traçamos os caminhos de nossas futura pegadas em cada centímetro da folha. Criamos laços que são como manchas em todas as folhas do bloco abaixo. Rasgamos um pedaço no meio, tentando prever um futuro, em vão. O tempo e o vento ameaçam levantar a folha, mas sob o peso de um grafite quase radioativo, não levantam. Quem pode saber o que nos espera no amanhã? E por que alguém haveria de saber? Ao se pensar em futuro, o discorrer do pensamento já virou passado em dois segundos.

O máximo a se fazer é riscar a próxima folha. Mas são só marcações. O futuro em branco é apenas trilho para o trem da imaginação, da inspiração e do pensamento humano. Ele não existe, é apenas uma estrada virtual. Quem poderia dizer que em todos esses anos, tais pessoas poderiam cravar suas manchas permanentes no bloco, no prontuário da vida?

Os dias, quadriculados no papel podem ser pintados de preto, ou não ter cor alguma. Não determinamos conscientemente, embora pertença a nós cada folha. Mas pode ter certeza que quando há luz for clara, ela há de remover todas as manchas dos dias em preto. A luz da amizade, do respeito, da humanidade, da civilização e de tudo que deixamos para trás nas cavernas.

E em nome da luz da amizade, saúdo-vos, amigos e colegas que deixaram suas anotações na extensa parede da memória.

Feliz ano novo.