sábado, 5 de janeiro de 2013

A "lógica do estepe"

Mais uma vez, dentro de um curto período de tempo, venho aqui falar um pouco sobre o que me vem à cabeça. Tenho certeza que dessa vez, porém, encontrarei mais pares dentro do que penso do que em minhas nebulosas metáforas pessoais. Venho tratar sobre o que costumo chamar de "lógica do estepe". Primeiramente, já afirmo que se trato de amor, aqui ele é a figura universal que da mesma forma se manifestou durante toda a sua convivência com a humanidade. Descarto as novas formas que ele possa tomar, exceto quanto a algumas das flexibilidades que nossos tempos conferem aos que se encorajam em conseguir a mão de suas amadas com base na lei da oferta e da procura, que, nesse setor, se aplica de uma forma sutilmente diferente. Mas não convém explicar isso nesse momento.

Começo analisando o objeto estepe. A princípio, não é de se discordar do fato de que o estepe é um item de segurança. E, por tal motivo, é dono de uma enorme fatia de importância. Entretanto, por não rodar direto no asfalto, jamais há de ser o pneu mais importante de um carro. Muito pelo contrário, só se lembra de sua existência, quando o aventureiro já anexado ao eixo falha. A explicação é óbvia, mas é a parte mais importante do "ser estepe".

O "aventureiro" - note aspas - ou, simplesmente pneu instalado, deve, inicialmente rodar sem menores problemas, devendo, após algum tempo, começar a apresentar algum desgaste. O estepe está novo em folha, porém, pela estabilidade adquirida no desgaste equalizado em relação aos outros pneus e a facilidade com um solo específico não encontrada na estepe, ainda torna-o revezável com o estepe em muitos casos. É, isso é um pouco difícil de se entender, mas espero, porém, conseguir elucidar qualquer dúvida possível que possa resultar dessa metáfora.

Normalmente, ou ao menos nos tempos em que os pneus dispensam maiores tratamentos, o fim da vida útil de um pneu significa recauchutagem e a troca por um novo exemplar. O estepe se tornaria o pneu principal, então. Lógica simples. Porém, não é assim que funciona. Pensemos melhor, pensemos como na Fórmula 1. Há pneus para chuva, para piso seco... Enfim, varia pela situação enfrentada pelo veículo. Penso que a situação se faz parecida: o pneu substituto fará melhor o trabalho e obterá melhor desempenho na nova situação.

Ainda sim, ainda faltaria algum pedaço à "lógica do estepe". Ah, sim, claro: o pensamento que a rege e preferência forçada por algum tipo de pneu. Que bem entendo ouvindo, mas pouco entendo pensando. E é neste ponto em que precisarei largar mão da metáfora e alçar breve vôo ao reino humano para entender de forma não mecânica como os sentimentos humanos são capazes de produzir os efeitos da "lógica do estepe".

Primeiro: não se pode ignorar que uma ausência incentiva o ser na procura de novos caminhos que supram os efeitos causados pela ausência. Segundo: tampouco pode se ignorar que em um momento de ausência não se possa encontrar qualquer caminho que supra suas necessidades "espirituais" (aqui entre aspas, pois não consigo achar termo melhor, no corrente momento) ou - importante - até supere-as! E nesse patamar de procura, encontro de algo diferente - mas satisfatório - é que se forma a "lógica do estepe". Encontra-se um potencial substituto, que é colocado, então, em teste.

Mas os testes jamais terminarão. Ou muito demorarão para fazê-lo. Pois muito da lógica estepe se estabelece sobre a segurança - ou a imagem dela - construída sobre o produto atual e que, decididamente pode não existir ou simplesmente ser uma idéia forçada, apenas baseada no intuito de não ter que arcar com as consquências de uma nova substituição. Isto, senhoras e senhores, é a lógica capaz de transformar muitos amantes em eternos servidores. Processo o qual muitos conhecem por outro nome. Processo o qual, muitos sequer sabem estar colocando em prática. Processo o qual muitos são submetidos sem saber muito o que fazer.

O "amor de estepe" pode não ser um produto de mercado. Mas arrisco-me a dizer que quase está lá, de tão comum que sua expressão no meio é. Reflete um inflexível caso em que o amor se expressa de forma tradicional levando-o à quase servir a amada. Mas dentre tanto velho nevoeiro, os novos tempos dão a saída: o pequeno amor sem compromisso, nos permite viver um pouco menos como estepes, que só chuva tomam, sem nunca conhecer o chão.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Cruzando os céus do novo ano

"The bad news is time flies. The good news is you're the pilot"
-- Michael Althsuler


Parece que foi ontem, mas já há quatro dias em que o ano de 2013 se faz presente nos calendários ao redor do mundo. Ajusta-se o altímetro, novo nível alcançado, mais uma marca do tempo nas cadernetas de cada um. Passa-se mais um teste e elabora-se outro rascunho. Se renovam esperanças, se consolida uma nova era, ao avanço do tempo.

O tempo voa, jamais para. E, consigo, leva o passado, para bem ou para mal, irreparável, imutável. Três vivas à imutabilidade do passado! ainda friso. Esse conjunto de experiências que para trás deixa-se e os efeitos consequentes de cada atividade é a formação de um sujeito.

Como seria se a máquina do tempo desse a chance de se modificar o passado consolidado? Quiçás, diversas vidas haveriam de ser poupadas, aviões não haveriam caído, a revolução francesa não se haveria travado. Mas se não é, a estabilidade, do ser humano, parte; é justamente sua contraparte que invoca a arte. Sem dor não há arte, sem instabilidade não há nada que dor provoque. Sem arte, não há o que se registrar.

Tampouco haverão inventos. E os anos que se passarem só serão uma mera contagem referencial. O tempo pouco importará, se tudo estiver em um mesmo plano.

O tempo voa. Nos cabe guiá-lo. Às vezes, parece quase parar. Em outras, parece quebrar a barreira do som, como um certo flying delta. Quem dita velocidade e destino são os ponteiros do relógio, ao viajante cabe apenas navegar pelas belezas que a vida nos trás e melhor saber aproveitá-las, antes que o partamos para o último vôo.

O ano que se passa, e o novo ano que entra é como número do vôo. Por certo, pouco importa a forma como se recebe o bilhete. Alguns preferem recebê-lo em trajes de pai de santo. Outros preferem fazê-lo reiterando os laços de amizade. Mas, ao fim de tudo, o bilhete estará na carteira. O bilhete que trará mais algumas milhas de vida, quiçás acompanhada de algumas tempestades, quiçás das luzes estelares. Há coisas que somente o tempo reserva aos viajantes que cruzam seus mares e céus. E pouco há o que fazer por parte do viajante. Este apenas navega com toda a força que os braços podem lhe conferir.

Era de mudanças

Pode parecer estranho à muitos, porém explico que não me agrada muito escrever sobre meu próprio indivíduo. Às vezes, isso me soa um tanto quanto intimista e egóico. Afinal, não acredito que um pequeno acontecimento que se suceda a minha pessoa - em regime de, definitivamente, nenhuma exclusivade - há de adicionar muito à experiência mundana.

Entretanto, me agrada escrever. E, caso julgue necessário, hei de narrar um pouco do que me aconteceu, apenas com o intuito de não deixar passar certos momentos em branco ou simplesmente delinear momentos de modo mais literário.

O momento - ou conjunto deles - em questão, foi uma passagem um tanto quanto diferente. É aquela diferença de ambiente, de turma e de situação que dá o velho atestado da passagem do tempo, mas de uma nova forma: os acontecimentos e suas reações a ele. A prióri, a passagem do tempo só era atestada por aquele algarismo que somava a um, a cada zero hora daquele trinta e um de dezembro.

Mas, agora, já devidamente registrado na receita e com a lata de cerveja na mão, a vida passará diante aos olhos com outro brilho. Já deixará de ser um requinte atormentar os bichos, bem como correr ao redor da casa - embora, a grande verdade é que, espero, todos já tenham deixado de fazê-lo há um bom tempo; porém acredito que tenham entendido a metáfora. Por mais que um ou outro passatempo ainda permaneça, a vida, de uma forma geral, muda... Agora a voz sai um pouco mais grossa e a barba cresce como uma grama preta, cercando o queixo.

Algumas dúvidas adolescentes se tornam certezas e agora somos donos de nossos próprios destinos, pois a casa dos pais não há de ser o destino final de ser humano algum. O tempo há de nos fazer voar, para longe ou para perto, mas para um novo destino por nós construído.

Mas o melhor - ou pior - de tudo é que isso é um flash, apenas. Não há muito o que pensar, apenas sabe-se. E nunca encontraria uma melhor cerimônia para ratificar esse sentimento novo como aquele bem comemorado natal, na casa dos "Pinheiro Paes Leme". O cruzamento entre estradas em que minha família encontrara os mais distantes descendentes do caçador de esmeraldas. Pessoas que, por certo, combinaram traços peculiares e brilhos de ambos os lados.

Sabe-se que entre o fotógrafo bahiano e o caçador de esmeraldas há grande distância. Mas isso releva-se, já que todos sob mesmo teto riem, dançam e cantam. Se há problemas internos, não há como dizer, porém, que as rupturas nos separam. Somos um brasão, que, se para uns é motivo de riso, para nós é motivo de champagne - e, quiçás, de mais cerveja.

Diria que são loucos aplicados, mas quem em sua loucura fazem o bem da companhia. Está comprada minha passagem para o clube. Uma dama, inclusive, me encantou muito. E acredito que haja recebido uma recepção perfeita pelos portadores do escudo.

Au revoir, Sapins!