Cerveja, muita cerveja. Já parecia suco de laranja naquela altura do campeonato. Mal via um palmo à sua frente, mas mesmo assim levantou-se. Foi ao balcão e pediu uma cerveja, mas falou que não queria suco de laranja. Todos sabiam a causa, um cheiro, que não era estranho à nenhum herbanário, se fazia sentir. O bar estava cheio, mas as duas mesas vizinhas estavam vazias.
Levantou-se, pagou com uma nota de Cem uma conta de 80. Chegou à sua casa do mesmo estado em que se levantara da cadeira. Os pais não estavam em casa, enquanto sentava em seu quarto, apenas olhava em volta, como se os objetos se movimentassem. Lhe era estranho, lhe era agoniante, mas ao mesmo tempo fantástico, e insuficiente. Precisava de mais, mas não podia mais, seus membros pareciam não atender aos movimentos.
Seus pais chegam, o chamam para a janta. Em um trocar de palavras rápido, dá tempo de se apossar de um pedaço de torta e se sitiar no quarto novamente. Dorme, dorme muito. Ao acordar, está lúcido o suficiente para lembra que tem que dirigir à algum lugar, engole bolachas, se joga no carro da mãe e sai na frente do colégio. Já não é mais o mesmo, nesta terra ganha poderes especiais, mas nem se lembra como conseguiu isso.
Era trágico. Não conseguia se dissociar seu emocional, social e físico, não conseguia se isolar. Era um só, muito sociável, é verdade, porém apenas queria ter sua vida, ouvir sua música, ter sua mulher. Não tinha isso antes, e teve tudo depois. Abriu sua mente por métodos muito mais naturais do que os neorônios poderiam oferecer.
Em ser sociável tentava encontrar o sentido de sua vida. Isso lhe segura, lhe conforta. Mas ao final das contas, nem lembrava que havia um colégio, família e pessoas, lembrava só de algumas pessoas muito próximas.
Afinal de contas, talvez nem tudo isso fosse ligado dessa forma, mas estava tudo tão mesclado, que agora seria até o fim. Tudo isso foi pensado, estava sendo pensado, neste momento, em uma cama hospitalar. AIDS no estado terminal.
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A força da mente é a mais importante de nossas forças.