sábado, 29 de outubro de 2011

Três da madrugada

São três horas e cinqüenta minutos, madrugada afora. Escrevo, enquanto, em um desnorteado movimento afocal, cada um de meus olhos procura uma direção, cruzando-se em um vesguismo automático. Decidi pautar um pouco sobre qualquer solicitação natural, mas, visto que não tenho nada urgente a tratar, ponho-me a ponderar sobre a vida em todas as suas nuances hora sob o silêncio mudo das ventuinhas, hora sob suaves notas Bachianas sibilam sob forma de ondas sonoras, entretanto.

Um ar mortiço indica o quanto fora desgraçado na tarefa de alertar. Vejo que minha geração, assim como as outras, sobem às nuvens. Nuvens sólidas como água. Vapor. Jovens manchados de tinta, sem matiz, todos iguais. Nadam no infinito sem cores, sem esperança.

Os sonhos são fragmentados igualmente, ou pior. Triste. Em uma distante ilha, um flautista toca Mozart, em notas tão murchas, que de magnífica música, passa quase a um aviso de fim de mundo, que entende-se não pelo tocar, mas pela tentativa pífia. Ruínas. "Pois do pó viestes, e ao pó retornarás." Pó? Não importa o pó, nossas pegadas importam mais. Quem somos.

Tarde demais, se fora o último ônibus. Chovia forte, chuva de petróleo. Petróleo popular, que bem mal pagava seus sócios. A mancha preta da falência machava cada planta em volta. A pé, fugia de uma catástrofe, se arrastando como velho maltrapilho, ou um animal que se recusa a a largar uma manga cheia de vespas, um animal racional, dentre suas últimas ruínas.

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