Cidade. Ruas, avenidas, carros e jazz. Familiar? Ainda procuro figurar. Dentre tanta confusão podia imaginar Júlio de Junho Machado entre um semáforo e outro com as mãos metidas no bolso. Fazia mais do que só fitar em vazio as grades dos edifícios e veículos. Pensava algo mais.
Quem o conhecia, facilmente te contaria, durante uma festa regada a discoteca e golas estendidas pela lapela dos blazers acinturados, que sucedia a Júlio de Junho era uma quebra de paradigma. Parecia que o passado o assombrava com regular frequência. Um escritor arrependido, amargado. Culto como algum Marcola.
De qualquer forma, seus vizinhos podiam jurar ouvi-lo berrar, por vezes, "não toque nessa porta" ou "João da Bomba, tu me pagas" -- o emprego correto da segunda pessoa dependia da intensidade da crise. Da Bomba poderia ser um discotequeiro das baladas de esquina daqueles remotos anos oitenta ou algum criminoso. Pelo jeito pecava por se entregar às noites regadas a Disco e cocaína, ou às tentações do poder conferido pela pólvora.
Por outro lado, supunham alguns que só se perdia nos olhos de Maryan Tonyk, uma húngara de família árabe que conhecera fazendo prova na PUC. Doce mas matadora, não poupava um nas ruas do Jardim Éfeso. Ela costumava andar de saiote preto às manhãs, na Avenida Ilium, exibindo um sorriso bobo, mas preciso. Perdeu-se na escola de artes, mas fez de Júlio seu escritor e assim estava feita.
Enfim, de uma forma ou de outra, Júlio estivera ou está detrás das grades. Se não se arrependera de dançar ao ritmo frenético de "Never Gonna Give You Up", acabaria cantando a música sozinho na rua, pensando nos olhos e no busto de Maryan. It goes, it comes. Júlio é como todos nós.
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