Esta poderia muito bem ser aquelas histórias de boteco para a qual nem Fortuna poria sua trança a leilão. Uma arte do acaso. Acaso que não parecia ser indicado pela atmosfera nublada daquele dia trinta de abril. O oposto de fazia sentir. Carregadas notas de piano enchiam cada viga da rodoviária.
Para entender o porque de tal clima, é preciso entender primeiramente que depositamos, cada um, três imprestáveis reais no caixa do ônibus. Uma atmosfera carregada nos esperava no bairro do Limão e fez com que tivéssemos certeza de que queimar essa cifra teria tido melhor utilidade.
Meu camarada tinha seu estômago nas costas e um pálido plano de raiva no rosto. Atravessei a tempestade como se fosse névoa, mas não sei se poderia dizer o mesmo dele. Deixava o Butantã com um arrependimento duas vezes maior que quando embarcamos no primeiro ônibus da jornada.
Após uma breve janta em escasso tempo, regada a notas tocadas por um pianista anônimo, assistido por uma ou duas almas, que por vezes se alternavam.
Lia-se Erechim. Era um ônibus novo e reluzente, revestido do mais uniforme insulfilm em seus vidros. Deixei-o a mercê de Vênus. Avistava na fila várias pessoas e tinha por certo de que de nenhuma eu me lembraria depois.
Sentado no banco de um carro Budd do metrô, iniciei um precário correio eletrônico entre este referido camarada e uma amiga de imensurável valor, de forma a repelir um pouco aquele preguiçoso final de tarde.
Dentre uma mensagem e outra, o camarada, André, para melhor nos referirmos, de alguma forma tentava invocar uma coragem para se aproximar de uma das passageiras, a qual havia visto na fila, mas que a essa altura do campeonato já parecia não ser mais uma simples passageira de nossa passageira vida.
De um diálogo simples, de pouco arrojo e extraordinária coragem, fizeram-se os dois um, na missão de preencher o vazio de uma viagem, que de poste a poste, madrugada adentro prometia ser a mais melancólica das relíquias da vida, um cadeado de latão trancafiando um baú de ouro.
Obra de divindade ou acaso do momento, sabe-se mal a explicação. Aconteceu e assim foi. Mas por aí não fica. A tempestade não acabaria, e às cinco horas da madrugada, tudo parecia não existir mais e o tempo ameaçava tornar passageiro qualquer sentimento empregado.
Mas o tempo não fez-se de ingrato, e frente a dois corações desconexos, recriou um laço que, não fosse a velocidade dos elétrons viajantes, estaria agora para sempre firme, porém encoberto.
E, ao final de tudo, delineou-se assim, esta história. Por certo, dirão que é mera ficção. Mas reitero que é ficção apenas fora de nossa dimensão espacial, observei cada passo dessa trajetória e deixo minha assinatura sobre cada fato relatado, para que todos tenham certeza de que praticamente nada é impossível, em um mundo tão envolto por elétrons e encoberto pelas nuvens do acaso.
Para entender o porque de tal clima, é preciso entender primeiramente que depositamos, cada um, três imprestáveis reais no caixa do ônibus. Uma atmosfera carregada nos esperava no bairro do Limão e fez com que tivéssemos certeza de que queimar essa cifra teria tido melhor utilidade.
Meu camarada tinha seu estômago nas costas e um pálido plano de raiva no rosto. Atravessei a tempestade como se fosse névoa, mas não sei se poderia dizer o mesmo dele. Deixava o Butantã com um arrependimento duas vezes maior que quando embarcamos no primeiro ônibus da jornada.
Após uma breve janta em escasso tempo, regada a notas tocadas por um pianista anônimo, assistido por uma ou duas almas, que por vezes se alternavam.
Lia-se Erechim. Era um ônibus novo e reluzente, revestido do mais uniforme insulfilm em seus vidros. Deixei-o a mercê de Vênus. Avistava na fila várias pessoas e tinha por certo de que de nenhuma eu me lembraria depois.
Sentado no banco de um carro Budd do metrô, iniciei um precário correio eletrônico entre este referido camarada e uma amiga de imensurável valor, de forma a repelir um pouco aquele preguiçoso final de tarde.
Dentre uma mensagem e outra, o camarada, André, para melhor nos referirmos, de alguma forma tentava invocar uma coragem para se aproximar de uma das passageiras, a qual havia visto na fila, mas que a essa altura do campeonato já parecia não ser mais uma simples passageira de nossa passageira vida.
De um diálogo simples, de pouco arrojo e extraordinária coragem, fizeram-se os dois um, na missão de preencher o vazio de uma viagem, que de poste a poste, madrugada adentro prometia ser a mais melancólica das relíquias da vida, um cadeado de latão trancafiando um baú de ouro.
Obra de divindade ou acaso do momento, sabe-se mal a explicação. Aconteceu e assim foi. Mas por aí não fica. A tempestade não acabaria, e às cinco horas da madrugada, tudo parecia não existir mais e o tempo ameaçava tornar passageiro qualquer sentimento empregado.
Mas o tempo não fez-se de ingrato, e frente a dois corações desconexos, recriou um laço que, não fosse a velocidade dos elétrons viajantes, estaria agora para sempre firme, porém encoberto.
E, ao final de tudo, delineou-se assim, esta história. Por certo, dirão que é mera ficção. Mas reitero que é ficção apenas fora de nossa dimensão espacial, observei cada passo dessa trajetória e deixo minha assinatura sobre cada fato relatado, para que todos tenham certeza de que praticamente nada é impossível, em um mundo tão envolto por elétrons e encoberto pelas nuvens do acaso.
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