A cidade não morreu, mas começa a se desmontar, perante aos olhos do sol dormente. E vemos, luzes por luzes, vermelhas por um lado, amarelas de outro, em avanço rápido para um trânsito de formigas. Seis milhões de conjuntos de luzes, como vagalumes estáticos e sem asas, varrem pedra a pedra.
Mas não precisa desmontar-se, a cidade... Ao alvorecer, tudo se repete, de sete às sete. Porque a cidade não para, apenas acerta seus ponteiros, para logo mais explodir em multidão. Pesadas portas de aço se erguem frente aos primeiros raios solares, para mais tarde caírem sobre o brilho inexistente da lua.
Fecha o tempo, cai a chuva. Imersos estamos, sob a urbanidade exacerbada, sem limites tracejados, que agora nos confere a poça sob nossos pés. Viajamos no limite das leis da física, perdemos nossas referências. O conforto grita contra os valores e nunca se sabe o quanto a mala realmente atrapalha. Seremos nós as malas, uns dos outros?
Nas latas de sardinha não há alças. Apenas canos, canos pelo qual entramos no resumo de cada dia, carpe diem! E desceremos ciclo abaixo em um espiral de objeções às nossas licenças literárias. E ainda teimam em nos levar por entre máquinas, arrastando-nos por nossos braços. Ora! Não me peguem pelo braço, eu já lhes disse que não quero que me peguem pelo braço!
Tudo é força, máquina, energia. Tudo brilha. Trenzinhos de pilha coreanos, caixas de som portáteis e seus DJs voluntários. E, como paralisados pelo sono, de olhos abertos, presenciamos os espíritos dissecarem as tripas de neurônios conhecidos, extraindo-lhes o potássio e destruindo suas energias. Sinapse de tétrico fim, como os nossos tétricos tempos.
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