E sopra o suave e quase imperceptível vento do inverno, a lua cheia reflete nas janelas de alumínio, e brilha, como uma afiada lâmina, cortando com o seu contraste a profusão de tons escuros inerente à penumbra em que jaz a noite. Nesses tempos, tudo acaba em caracteres, sinais eletrônicos, acima de uma mesa de madeira reles, ligado à tudo, ligado à todos. Vive-se nisso, o cenário é apenas cenário. Tons que se encerram nas rebarbas do processamento lógico.
Neste momento, a janela fechada e os rádios desligados implicam apenas o ruído conferido ao ambiente pelos componentes mecânicos da máquina que jaz sobre a mesa de madeira reles. Escrever é como colocar papéis para alimentar as chamas de uma lareira, e assistir enquanto são queimadas. Mas são cinzas digitais. Cinzas não apagáveis.
O vazio entra na alma, e, sem rodeios, revira todos as salas, todos os salões, todos os corredores. Derruba colunas, paredes... móveis. Voam os papéis, nada agrada. Lá fora, a tempestade, a certeza da impotência.
Tudo é destruído pela rotina, pela ausência de grandes acontecimentos. Tudo é caminho, caminho este, que leva para o fundo... o fundo do poço. Nada a fazer.
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