Que
o brasileiro médio não tem medo de queimar o próprio pé ao pôr no fogo as “bruxas
da corrupção” não há praticamente a menor dúvida. Acredito que já tenha falado
sobre isso anteriormente, inclusive. Torno ao assunto porém à luz (ou às trevas,
mais sinceramente) do recente surto de histeria coletiva contra o jornalista
Reinaldo de Azevedo, da VEJA. No afã das paixões diárias, o militante
direitista resolve que exorcizará qualquer resquício de corrupção, com fogo e
bala, para o bem e a paz da nação!
No
mundo, está difícil encontrar jornalistas prestáveis, especialmente nesses
tempos em que as paixões são tão aceitas quanto argumentos. Se outrora já
tivemos Paulo Francis, nos tempos de hoje temos Reinaldo. E ele merece o crédito
por ser, por aqui, um dos poucos cujo QI não parece ser limítrofe. Ao menos,
quando fala em Estado de Direito consegue articular um sistema lógico: sabe que pimenta nos olhos do inimigo hoje
pode ser pimenta nos olhos dos amigos amanhã.
Estive,
timidamente, em algumas das manifestações pro-impeachment. Apesar de
taticamente aliado, naquele momento, temia por uma coisa: e ser os únicos
argumentos passassem a ser tão só e unicamente os alaridos e um pato de
borracha gigante? Pois bem, parece que a coisa anda bem por aí. Se a esquerda,
sabe-se bem, gosta mesmo é de uma boa instabilidade, pelo visto também pode
levar o crédito por fazer a direita tomar gosto por este ofício. Ganhou uma
parceira que também adora atirar pedras às instituições.
A
fim de perder um pouco a esperança na humanidade, resolvi ler os comentários de
um dos posts recentes de R. Azevedo
no Facebook. Chocava-me haver poucas
defesas ao jornalista dentre os virulentos comentários. Alguns chegavam a
sugerir em tom de obtusa sinceridade ser Azevedo um “petista enrustido”. A que
serve ser um “petista enrustido” num país em que a esquerda tanto grita ainda
estou por entender.
Outros
ainda taxavam os artigos do jornalista de ataques a “instituições sérias como a
PF, MPF etc.” Uma engenhosa inversão que até pode pintar Reinaldo, ele mesmo,
como um dos paladinos da desestabilização. Estão, no entanto, certos os
comentaristas: são instituições sérias. Exageradamente sérias. E Maquiavel
ensina que não faz mal desconfiar de gente desse naipe.
Sisudos
e repletos de boas intenções, estes juízes e promotores. Ora, não é preciso ter
muitos miolos para saber que de bem intencionados o inferno está cheio! Se
reclamam que apelo para a tradição popular, pioremos o quadro: Jânio Quadros
saiu por aí em sua campanha de vassoura na mão pretendendo limpar o país para,
oito meses depois, enfiar o Brasil em mais uma de suas já cotidianas crises políticas.
Ou
ainda Collor, cujo título de caçador de marajás facilmente ocultaria sua origem
coronelesca. Podemos dar umas voltas na Europa do passado, também, e
testemunharmos o trabalho dos jacobinos... Toda essa gente saiu de vassoura,
faca e espada na mão. Deram uns tiros, arrancaram governos. E depois? Arrumarão
um outro inimigo para se legitimarem? Abdicarão pacificamente de seus poderes
para viverem numa pousada em Balneário Comburiu? Se a perguntar for difícil de
responder, prefiro não me juntar às turbas ensandecidas.
Quando
Reinaldo de Azevedo defende o abstrato Estado de Direito, só quer, na verdade
que não encontremos na política o equivalente futebolístico dos jogos do
Corinthians, em que, admitamos, uma mãozinha do árbitro não é coisa rara. Não
que acuse aqui o Meritíssimo de Curitiba de dar facilidades ao time adversário.
Até por que, que time adversário? A direita? O capital? Nada. O time adversário
é o dele mesmo, que joga contra a política nacional.
Pede-se
então que o magistrado em questão decida se é árbitro ou cartola. Aristóteles já
dizia, no primeiro livro de sua Política:
“o homem é um animal político”. Se o campeonato for aqui disputado entre
diversos níveis da política (de presidente a síndico de prédio) pode aposta,
meu irmão, que pelo o elenco da cidade gelada não passa ninguém não!
Reinaldo
pede polidamente que não se ponha fogo no país. Ou as coisas ganham certo tempo
para entrarem em seus lugares ou jamais entrarão. Se esse lava-jatismo insano
perseverar, síndico de prédio há de se tornar a profissão mais ingrata e breve.
Que dirá então o presidente! O Brasil pede uma cirurgia delicada, e estão
tentando operá-lo com um martelo.
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