São cíclicos os movimentos das nuvens, ainda que imprevisíveis. Mesmo assim, sabe-se que num dia chove, faz frio, venta. Noutro, racha o sol forte e tropical sobre as cabeças. Acontece, porém, que é justo por sermos tropicais é que raro mesmo é um dia de chuva e jazz. Domina o pagode, axé e sol de rachar. Há quem goste, mas há um certo articulista que não aprecia muito este ambiente.
Esqueçamos também a humidade. A mania cartesiana de enfiar a ciência no meio parou por aqui, pois a questão é literária. Parece mesmo que são os tempos, como se isso já não houvesse sido falado algumas dezenas de vezes. Pouco importa. O sujeito senta no banco do ponto de ônibus, mas muitos passam, nenhum é o dele. O calor é insistente. A cerveja faz falta, mas se tem é apenas Itaipava.
Já há muito se fora o elixir da Deusa. Talvez ela estivesse por lá como bom ouvido amigo. Era, porém, uma deusa de tempos remotos. Em tempos aridamente pós-modernos, só mesmo uma deusa kafkiana cairia bem. Embora, claro, ignorando uma provável contradição nos termos.
É uma estátua de jardim, mas fuma com estilo -- ou não fuma? Cada um faz a imagem preferida. Para Kafka, um humano pode verter em barata. Não pode uma estátua de jardim fumar?
O calor não dá trégua. Mais um pouco, a estátua derrete. Será de parafina, sal e água ou água e sal? É estátua mesmo? É vela ou fumante? Cada dia um aspecto, cada dia uma imagem. Um dia um universo, um dia, bem... um universo. Parece não estar no mesmo local. É, parece ser uma estátua. Dessas iluminadas por uma luz macabra, no fundo da mente.
Uma estátua ou objeto sensível regado a uma avaliação transcendental... meio kantiana. Entre o fastio do sol, um abraço sem correspondência e a incerteza das conexões entre objetos metafísicos, há quem não engasgue com tanta poeira de velhice e terra cansada?
Para quem passa a vida levando como hobby (ou profissão) uma arte empírica, cujo fim não é em si, tudo parece distante. São estas as pessoas solitárias, autômatas, cartesianas. Algumas se debatem em suas gaiolas, outras riem-se. Esse riso sim, com o fim em si, vã e rala tentativa de vencer o fastio da vida. Apenas apressa, no entanto, a chegada da aridez.
Há ainda os artíficies dessas ciências com fim em si. Ainda mais perdidos que os fúteis empíricos. Pesquisadores do Instituto Pinéu, tentando racionalizar ou relativizando razões nesta eterna casa da mãe Joana.
É dos tempos? É dos tempos. É de hoje? Talvez não. Só se deu a chance a alguns bocós de mola. Merecem? Vá saber. Nem lembro o que jantei ontem. E já me perdi novamente. Na verdade, na areia o potássio nem conduz. Acabou a sinapse.
Já a sinopse? Ela continua, inacabada, nauseabunda. O tempo insiste em continuar, o clima insiste em secar. Quanto menos água, mais briga. E quem escreve é quem ficou na berlinda tomando só a poeira na cara.
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