Este texto foi publicado originalmente no Facebook, na mesma data em que aqui está arquivado
Tenho escrito com frequência sobre o tema, de modo que não é necessário re-escrever tudo o que penso aqui. Um ponto levemente tratado no texto anterior versa sobre a regra dos dez anos: os ônibus urbanos de Sampa podem gastar motor até seus dez anos de idade.
Essa regra é ponto pivotal da minha crítica ao transporte em São Paulo e por dois motivos que irei desenvolver aqui. É nesta regra em que juntam-se farsas do marketing da SPTrans e o lobby dos grandes. Nada contra os grandes, claro, apenas não penso ser saudável empresas favorecidas apenas por terem como "comprar" suas licitações.
O primeiro problema com essa regra infame é o descarte de material em boas condições de uso. É verdade que um motor diesel não dura muito, porém é normal que seja trocado algumas vezes ao longo dos dez anos, mesmo. Desse modo, um veículo bem conservado pode durar tranquilamente de vinte a vinte e cinco anos. E então é trocado quando realmente vale mais a pena obter um novo veículo do que manter o atual.
O segundo é a farsa da frota bem mantida. Os indicadores de frota sempre estarão abaixo da média dos dez anos e então dirão: "mas nossos ônibus são novos". Uma ova. Quem anda de Transppass e Mobibrasil sabe bem as condições em que estão nossos "ônibus novos", dentre os quais alguns fabricados em 2007 e outros em 2011. Se o problema é idade, estes devem ter uma idade equivalente de uns 42 anos de uso.
Ou seja, sobrevivem os empresários que podem vender os veículos novos e os que podem comprá-los: aqueles grandes cujo acesso ao BNDES é fácil. O resultado é um medíocre comércio entre favorecidos do governo, não há vez para os pequenos, que fecham suas portas e botam o sofrido investimento em frota a perder (como aconteceu em 2003 -- o resultado vê-se na imagem abaixo).
A Mercedes ganha, a Caio (que aliás é de um dos maiores empresários de ônibus de SP) ganha, a SPTrans por algum motivo parece ganhar com isso, também. Aí temos um serviço impessoal, prestado por gente que não tá nem aí para a sua frota e ainda precisamos aturar o discurso da qualidade de gestão. Mas é muito para minha cabeça!
FOTO: Rafael S. Silva / Ônibus Brasil - Pátio Guido Calói, na Zona Sul de SP (Capital).
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