segunda-feira, 15 de maio de 2017

Esperançosos Incendiários

 Que o brasileiro médio não tem medo de queimar o próprio pé ao pôr no fogo as “bruxas da corrupção” não há praticamente a menor dúvida. Acredito que já tenha falado sobre isso anteriormente, inclusive. Torno ao assunto porém à luz (ou às trevas, mais sinceramente) do recente surto de histeria coletiva contra o jornalista Reinaldo de Azevedo, da VEJA. No afã das paixões diárias, o militante direitista resolve que exorcizará qualquer resquício de corrupção, com fogo e bala, para o bem e a paz da nação!
No mundo, está difícil encontrar jornalistas prestáveis, especialmente nesses tempos em que as paixões são tão aceitas quanto argumentos. Se outrora já tivemos Paulo Francis, nos tempos de hoje temos Reinaldo. E ele merece o crédito por ser, por aqui, um dos poucos cujo QI não parece ser limítrofe. Ao menos, quando fala em Estado de Direito consegue articular um sistema lógico:  sabe que pimenta nos olhos do inimigo hoje pode ser pimenta nos olhos dos amigos amanhã.
Estive, timidamente, em algumas das manifestações pro-impeachment. Apesar de taticamente aliado, naquele momento, temia por uma coisa: e ser os únicos argumentos passassem a ser tão só e unicamente os alaridos e um pato de borracha gigante? Pois bem, parece que a coisa anda bem por aí. Se a esquerda, sabe-se bem, gosta mesmo é de uma boa instabilidade, pelo visto também pode levar o crédito por fazer a direita tomar gosto por este ofício. Ganhou uma parceira que também adora atirar pedras às instituições.
A fim de perder um pouco a esperança na humanidade, resolvi ler os comentários de um dos posts recentes de R. Azevedo no Facebook. Chocava-me haver poucas defesas ao jornalista dentre os virulentos comentários. Alguns chegavam a sugerir em tom de obtusa sinceridade ser Azevedo um “petista enrustido”. A que serve ser um “petista enrustido” num país em que a esquerda tanto grita ainda estou por entender.
Outros ainda taxavam os artigos do jornalista de ataques a “instituições sérias como a PF, MPF etc.” Uma engenhosa inversão que até pode pintar Reinaldo, ele mesmo, como um dos paladinos da desestabilização. Estão, no entanto, certos os comentaristas: são instituições sérias. Exageradamente sérias. E Maquiavel ensina que não faz mal desconfiar de gente desse naipe.
Sisudos e repletos de boas intenções, estes juízes e promotores. Ora, não é preciso ter muitos miolos para saber que de bem intencionados o inferno está cheio! Se reclamam que apelo para a tradição popular, pioremos o quadro: Jânio Quadros saiu por aí em sua campanha de vassoura na mão pretendendo limpar o país para, oito meses depois, enfiar o Brasil em mais uma de suas já cotidianas crises políticas.
Ou ainda Collor, cujo título de caçador de marajás facilmente ocultaria sua origem coronelesca. Podemos dar umas voltas na Europa do passado, também, e testemunharmos o trabalho dos jacobinos... Toda essa gente saiu de vassoura, faca e espada na mão. Deram uns tiros, arrancaram governos. E depois? Arrumarão um outro inimigo para se legitimarem? Abdicarão pacificamente de seus poderes para viverem numa pousada em Balneário Comburiu? Se a perguntar for difícil de responder, prefiro não me juntar às turbas ensandecidas.
Quando Reinaldo de Azevedo defende o abstrato Estado de Direito, só quer, na verdade que não encontremos na política o equivalente futebolístico dos jogos do Corinthians, em que, admitamos, uma mãozinha do árbitro não é coisa rara. Não que acuse aqui o Meritíssimo de Curitiba de dar facilidades ao time adversário. Até por que, que time adversário? A direita? O capital? Nada. O time adversário é o dele mesmo, que joga contra a política nacional.
Pede-se então que o magistrado em questão decida se é árbitro ou cartola. Aristóteles já dizia, no primeiro livro de sua Política: “o homem é um animal político”. Se o campeonato for aqui disputado entre diversos níveis da política (de presidente a síndico de prédio) pode aposta, meu irmão, que pelo o elenco da cidade gelada não passa ninguém não!
Reinaldo pede polidamente que não se ponha fogo no país. Ou as coisas ganham certo tempo para entrarem em seus lugares ou jamais entrarão. Se esse lava-jatismo insano perseverar, síndico de prédio há de se tornar a profissão mais ingrata e breve. Que dirá então o presidente! O Brasil pede uma cirurgia delicada, e estão tentando operá-lo com um martelo.

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